Política no Quintal!

na rua, na feira e em casa: ingredientes frescos

É tudo uma questão de prática!

Se você aprender a se organizar e cozinhar suas próprias refeições diariamente, você vai aprender aos poucos a identificar ingredientes de excelente qualidade.

Na verdade, é tudo mais simples do que parece. Ingredientes de qualidade são os mais frescos possíveis. São aqueles que não viajaram milhares de quilômetros antes de chegar à sua mesa e que não foram colhidos antes da hora. Acreditem, isso muda muito o sabor.

 

mangaba

 

Sabe aquela pamonha com o gosto inigualável que você comeu no interior de Minas? Ou aquele ensopado de frango caseiro, às vezes feito no fogão de lenha, que você não tem ideia porque o seu não fica igual? No caso da pamonha, o gosto incrível vem do tipo de leite usado, um leite gordo de vaca necessariamente fresco, nem de longe parecido com o leite de caixinha. O sabor vem também do fato de o milho ter sido recém colhido. Aliás, o milho é um exemplo radical, pois no exato momento em que é colhido o açúcar em sua composição passa a se transformar em amido numa velocidade abissal, o que faz com que em poucos dias ele passe de um sabor delicioso e cheio de nuances a quase um sabor de maizena.

Isso também é o que acontece com aquele brócolis aguado, que nem o azeite da melhor qualidade dá jeito. E também com o frango, que não é legume, mas em termos de sabor vai perder intensidade do mesmo jeito. Até mesmo aqueles frangos de boa qualidade, que tiveram uma alimentação variada. Se eles esquentaram a prateleira do supermercado por meses e meses a fio, eles não vão ter o mesmo sabor dos frangos abatidos mais recentemente. Você vai ter que se virar, normalmente besuntando o bendito uma quantidade razoável de gordura e tempero e rezando para que, no final, o sabor insosso da carne não apareça tanto em meio ao molho, este sim saboroso graças aos ossos da ave.

Claro, há exceções a essa regra – a abóbora inteira é uma delas, ela se conserva bastante bem! Mas, em geral, a regra é essa: quanto mais fresco, melhor!

 

couve-flor romanesco

 

Vegetais, frutas legumes saborosos são também aqueles que não foram cultivados apenas com adubos químicos. Afinal, as plantas são como nós: por que comeríamos prioritariamente apenas três nutrientes – potássio, fósforo e nitrogênio – quando tem por aí um mundo de outros sabores e texturas a serem degustados?

Desde pequenos aprendemos que comer variado, que é o mesmo de comer colorido, e isso implica em doses pequenas de muitas coisas diferentes, o que em geral leva à complexidade nutricional que a gente precisa para estar saudável. Com as plantas se dá o mesmo. Elas precisam de adubo orgânico, cuja composição vai um sem número de nutrientes, cuja relação entre eles é  imprevisível e na maior parte das vezes benéfica.

 

pimentas Mercado Central Belo Horizonte

 

Passar a frequentar a feirinha dos pequenos produtores, namorando toda a semana a barraca de pastel com caldo de cana, vai ser um dos seus melhores programas!!

É ali onde você vai mais provavelmente achar alimentos de boa qualidade, que não são necessariamente os mais bonitos. Aliás, na Bahia, onde morei por quatro anos, as melhores bancas de feira eram aquelas em que eu via apenas alguns poucos chuchus, umas três ou quatro abóboras, um montinho de quiabos, outro montinho de limões tahiti, coco e mais umas cinco variedades de legumes e frutas da época. Essas bancas eram muito pouco atrativas visualmente, principalmente se comparadas com as outras bancas de atacadistas, repletas de pirâmides de tudo quanto é tipo de vegetal ou legume. Foi só depois de muita tentativa e erro que eu fui percebendo que geralmente a abóbora mais saborosa e o coentrinho mais cheiroso vinham mesmo do pessoal dali da região, cujos alimentos eram produzidos de forma mais artesanal e colhidos no dia anterior ou na própria manhã da feira de sábado.

 

limão-boi da bahia

 

Dependendo da cidade onde você mora, pode até parecer que você vai gastar mais comprando na feirinha de pequeno produtor, afinal uma manga plantada e colhida de forma mais caseira dá mais trabalho e pode ser bem mais cara do que uma manga produzida em “série”, numa fazenda a milhares e milhares de quilômetros da sua casa. Mas não se iluda! Você vai ver que é possível manter seus gastos baixos quando você investe em ingredientes de qualidade e deixa de comprar os alimentos processados que, estes sim, pesam bastante no seu orçamento.

 

o menino, o caruru, a galinha e seu pintinho

 

Praticando, você também vai perceber que as sobras serão o seu maior trunfo pois, com elas, é possível construir sabores muito mais complexos, que são na verdade a diferença de uma comida razoável, ou até mesmo boa, para uma comida inesquecível. E o melhor: as sobras e os restos barateiam incrivelmente os seus gastos diários com comida.

Praticando, você vai se tornar bem mais rápido no preparo inicial dos alimentos e, sem que você menos espere, aquilo que te estressava e te tomava um tempo absurdo vai virar uma coisa natural e super prazerosa. Enquanto você conversa com um amigo, com a esposa ou o marido, pum!, o jantar vai estar prontinho.

 

raticando com livros de receitas

 

É  por tudo isso que o Mangalô é um blog de política, mais especificamente de política alimentar.

É porque acredito que as pequenas ações diárias têm um grande potencial de transformação.

Pra mim, elas propagam novos modos de estar no mundo, transformando os nossos quintais, até mesmo aqueles quintais de concreto, ou aqueles  que a princípio nem mesmo se parecem quintais, mas são os nossos espaços íntimos, onde decidimos como o nosso mundo se parecerá.

 

quintal com galinhas

(nessa foto acima está o João, menino que me esperava de manhã cedo nesse banquinho para dar comida para as galinhas do meu quintal. Ele é filho da Renata e do Beto, e foi um dos dois que tirou a foto!)

De minha parte, eu vou fazer de tudo para você se divertir nesse mundo de sabores e detalhes, que afinal são o que fazem uma boa refeição virar memorável.

Se você quiser ler mais sobre o que eu chamo de política de quintal, dê uma olhadinha também nesse material aqui:

 

regras da comida michael pollan

slow food brasil

 

 

 

Comentários

  1. Responder

    Rosane
    09/07/2014

    adorei sua proposta! achei o site procurando saber mais sobre o limão-boi, que acabo de conhecer aqui na Bahia, onde estou morando. mas nao consigo entrar em nenhuma receita, por quê?

    • Responder

      Paula Siqueira
      27/07/2014

      Oi Rosane! Obrigada pelo comentário. Limão-boi é mesmo delicioso, ele pode substituir com certeza o limão siciliano, pois tem uma acidez parecida. Eu ainda não descobri o nome científico dele, você sabe? Sobre as receitas: o blog é super novo, estou ainda organizando e em fase de experimentação, então não publiquei as receitas ainda. Mas elas virão em breve…! Assim que estiver pronto, te envio um email. Até breve!

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